AUTISMO: UMA MANEIRA DIFERENTE DE VER O MUNDO
A primeira descrição a respeito do autismo foi feita em 1943 pelo médico austríaco Léo Kanner. O autismo encontra-se na categoria de Transtornos Globais de Desenvolvimento (TGD); estes interferem nas interações sociais recíprocas e costumam se manifestar nos cinco primeiros anos de vida de uma criança. Além da sociabilidade, o TGD interfere negativamente na comunicação, mais comumente na linguagem, e causa padrões restritos de comportamento.
Em maio de 2013, com lançamento da quinta e última versão do Manual de Sociedade Norte-Americana de Psiquiatria (DSM-5), distúrbios do autismo tais quais Transtorno Autista, Transtorno Desintegrativo da Infância e Síndrome de Asperger, foram integrados em um único diagnóstico: Transtorno do Espectro Autista (TEA).
Quanto à comunicação, pessoas com TEA sentem dificuldades não só verbais, mas também gestuais. A neuropsicóloga Camilla Mazetto afirma que os comportamentos de autistas não se resumem a apenas esses traços: “Pessoas que possuem TEA podem repetir muitas vezes uma ação ou uma frase, demostrando comportamentos que são vistos como estranhos ou estereotipados, como brincar alinhando objetos, girando-os, por exemplo, e repetindo frases de desenhos animados. As dificuldades são observadas desde cedo e de diferentes formas”.
Intervenção precoce e diagnóstico
Os sintomas podem ser observados com mais facilidade nas crianças a partir dos 18 meses de idade, por profissionais ligados ao desenvolvimento sistemático da primeira infância. “Entretanto a busca por uma avaliação especializada acontece, na maioria das vezes, apenas depois dos pais notarem o atraso no desenvolvimento da fala ou outras particularidades de comportamento. O diagnóstico é feito por meio de escalas específicas e da observação clínica”, comenta Mazetto.
O diagnóstico, portanto, não é feito através de determinados exames de laboratório, mas pela análise do quadro clínico, como explica a fonoaudióloga Camila Andrioli Lacerda: “O diagnóstico norteia-se pelo DSM-5 e CID-10 (Classificação Internacional de Doenças da OMS). O fechamento de diagnóstico é realizado através da avaliação, observação e do histórico do paciente, sendo realizado por um médico neurologista ou pelo psiquiatra, porém é extremamente importante a participação de uma equipe multidisciplinar comporta por fonoaudiólogo, psicólogo e terapeuta ocupacional”.
A Dra. Mazetto acrescenta sobre a importância da intervenção precoce: “Identificar tardiamente pode significar a perda de uma importante janela no desenvolvimento neural, e a resposta às intervenções pode ser melhor quando a plasticidade neural é maior”. Assim, quanto mais cedo identificado o TEA, melhores são as chances da pessoa se adaptar à intervenção, que é realizada de acordo com a etapa desenvolvimento de cada indivíduo e adequada ao perfil particular do paciente. Segundo a neuropsicóloga, a intervenção precoce permite superar grande parte das dificuldades observadas no início, diminuindo a intensidade de alguns sintomas.
Mesmo com estudos feitos a respeito do TEA, as causas para tal condição ainda são, em parte, desconhecidas. Há estudos que apontam a hereditariedade como um fator relevante, em especial quando existe mais de um membro da família com Transtorno do Espectro Autista. Apesar da forte base genética como causa para os transtornos, nenhum gene específico foi identificado como o causador do autismo. Fatores ambientes também são considerados, dentre eles: estresse, infecções e substâncias químicas tóxicas, que tem capacidade de prejudicar o desenvolvimento do feto.
Tratamentos
Cada autista possui necessidades especiais em variados níveis, para isso em alguns existem alguns os tratamentos conhecidos. resumidamente, são eles:
- ABA – Análise aplicada de comportamento: ensina à criança habilidades que ela não possuí, por meio de etapas. Cada habilidade pode ser ensinada em esquema individual.
- PECS – Sistema de comunicação através da troca de figuras: é utilizado com indivíduos que não se comunicam, ou que o fazem com baixa eficiência. Ajuda a criança a perceber que por meio da comunicação ela pode conseguir mais fácil o que quer, estimulando-a a se comunicar cada vez mais.
- TEACCH – Tratamento e educação para crianças com autismo e distúrbios correlatos da comunicação: baseia-se na organização do ambiente físico por meio de rotinas, com uso de quadros, painéis ou agendas, adaptando o ambiente e assim tornando mais fácil a compreensão da criança. Visa melhorar a independência da criança.
Além desses tratamentos, outras terapias são utilizadas. A Terapia Assistida por Animais (TAA) pode reduzir comportamentos negativos de crianças autistas, como agressividade e isolamento. Cães e cavalos são os mais utilizados, porém outros animais – gatos, coelhos, aves – também ajudam. O ideal é um animal de personalidade calma, que não reaja a abraços, beijos e apertos.
Já a musicoterapia serve como chave para a expressão artística de pessoas com TEA. Ela ajuda em questões referentes à comunicação e à socialização, respeitando a idade física e mental do paciente. Os objetivos da terapia com base na música são melhorar aspectos cognitivos, afetivos e sociais da pessoa com TEA.
As terapias podem dar ênfase a diferentes processos: “Algumas no educativo, outras enfatizam o desenvolvimento emocional, enquanto há aquelas que se apoiam no desenvolvimento neural, tais como a Terapia de Troca e Desenvolvimento (TED)”, conta Camilla Mazetto. Esta terapia procura facilitar as interações adaptadas através de brincadeiras realizadas em conjunto com o terapeuta, em um contexto de tranquilidade, disponibilidade e reciprocidade.
O processo de aprendizagem de uma criança autista em relação às outras se dá de forma diferente e muito peculiar, principalmente devido às suas dificuldades na cognição sócio-emocional. “As crianças com autismo necessitam de apoio específico, sendo que muitas vezes tendem a ter uma organização mental mais concreta e visual, além de apresentarem pouca flexibilidade mental, o que dificulta a compreensão da comunicação verbal”, explica Mazetto.
Mesmo que sua aprendizagem não seja convencional, isso não significa lentidão ou atraso. “Os autistas tem um potencial enorme para aprender, mas de uma forma diferente. Por isso o material pedagógico dever ser sempre adaptado de acordo com as necessidades da criança. Quanto mais concreto o ensino é transmitido, maiores serão as chances da criança aprender”, relata Camila Andrioli.
Centros de Tratamento e Apoio
Pacientes com TEA e seus familiares podem encontrar apoio em instituições como APAE (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais), que possui sedes em diversas cidades; AMA (Associação de Amigos do Autista), com quatro unidades em São Paulo e a ADACAMP (Associação para o Desenvolvimento de Autistas em Campinas). Outro exemplo é a ACESA Capuava (Associação Cultural Educacional Social e Assistencial Capuava) na cidade de Valinhos, criada há treze anos, mas que há quatro vem realizando tratamento para pessoas que sofrem com autismo.
A entidade sem fins lucrativos trabalha com todos os tipos de deficiências, não possuindo nenhuma especificidade quanto ao paciente. Oferece atendimento nas áreas de psicologia, hidroterapia, pedagogia, musicoterapia, terapia ocupacional, fonoaudiologia, educação física, terapia de florais e oficinas socioeducativas. Além das não-restrições quanto ao tipo de deficiência com que trabalham, não há idade mínima ou limite para que o paciente possa frequentar a ACESA.
“Nós temos uma parceria com a Secretaria da Educação de Valinhos no trabalho desenvolvido. As crianças identificadas na rede pública de ensino com alguma problemática, quando diagnosticadas com autismo ou hipótese de autismo, são encaminhadas para a associação”, conta a Coordenadora de Projetos da ACESA, Roberta Maria Marcondes Cimino.
O autista consegue trabalhar bem com rotinas, sentindo dificuldade quando estas são quebradas. “É preciso que haja uma organização. Para que seu dia a dia funcione bem, a sua alimentação, higiene e atividades gerais, o autista precisa de uma rotina”, explica a coordenadora. A associação de imagens, ou seja, a união entre o verbal e visual é trabalhado na entidade. Segundo Roberta os autistas possuem boa memória visual e o desenvolvimento da criança é melhor quando associa a palavra a sua respectiva imagem.
Atualmente mais recursos estão disponíveis para pessoas que sofrem com TEA e os profissionais conseguem agora identificar com mais facilidade os sintomas, porém as causas para esta condição permanente ainda são desconhecidas. Terapias podem oferecer ao paciente a possibilidade de amenizar os sintomas e permitem que as crianças desenvolvam mais seu lado socioafetivo, melhorando sua a convivência com a família.
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